Um cara sem noção!
A vida é uma festa e nada mais justo do que nos divertirmos enquanto estamos quase enlouquecendo com tantas coisas que precisam ser resolvidas.
Outro dia, precisei
ir ao fórum, o estacionamento em frente pareceu excelente, já que multa é algo
que tenho evitado a qualquer custo. Tô esperta com meu marido, no dicionário
dele, multa é igual: tenho argumentos querida, e os usarei contra você!
Ao entrar no
estacionamento percebi uma vaga na lateral direita bem no cantinho, não hesitei,
engatei o carro pronta para fazer aquela manobra digna de dublê de cinema, mas antes
que pudesse o manobrista interveio.
Provavelmente fez
isso depois que me viu apertar as mãos no volante e morder os lábios daquele
jeito vidrado de corredora de rali enquanto acelerava o carro, mesmo ele
estando com o freio de mão puxado.
— Moça, — disse ele
me fazendo lembrar que não estava numa pista de corrida. — pode deixar que eu estaciono
pra senhora...
Fiz cara de dúvida, mas ele continuou firme.
— A vaga é difícil
dona. — emenda o folgado sem nem deixar de anotar a placa do carro.
— Tá falando que
não sei manobrar?
— Que isso dona... —
acrescenta o sem noção, tentando um sorriso amarelo. — a vaga é apertadinha,
deixai que estaciono pra senhora.
— Então, tá me chamando
de gorda?
Desculpa gente, mas
foi automático. Primeiro o fulano diz que não sei manobrar e depois me chama de
gorda?
Que mané vaga
apertadinha? Cabem dois carros ali. Idiota!!
— Magina dona, mas tem mulher que prefere que a
gente estacione, só isso...
— Pois eu sou
diferente. — completei determinada.
— Tenho certeza, mas a vaga é ruinzinha... — diz ele mostrando que outro motorista acabara de
estacionar onde pensei “cabem, dois
carros ali!”
Nesse momento, além
do manobrista-desafiador-folgado, o administrador do lugar e outros dois
garotos que ficam ali lavando alguns carros, pararam seus afazeres só para ver
que merda eu ia fazer.
— Esquenta não
dona, eu estaciono! — insiste o talzinho.
— Mesmo? —
desdenhei, mas o filho da mãe deu risada.
— Para com isso dona, eu manobro carro o dia inteiro, o que é mais um?
— Aposto que estaciono
melhor que você! — provoquei.
Agora até o administrador se interessou, tanto que cutucou o manobrista e foi logo dizendo.
— Faz assim dona,
se parar o carro direitinho naquela vaga do cantinho, — diz ele apontando só pra ter certeza que eu sei qual é na maldita vaga apertadinha. — o estacionamento é a lavagem fica por nossa conta...
Agora quem deu risada fui eu. Será que deveria dizer a eles que passei 5 anos manobrando carro dentro do lava-rápido que era do meu marido? Ou então comentar que vira e mexe dirijo o caminhão de 17 toneladas que temos hoje?
Coitados!
— Então tá! — afirmei.
Olhei novamente a
maldita vaga e soltei o freio de mão do carro.
Sou tão feliz! Sou
tão segura quando o assunto é dirigir que amo ainda mais meu marido por isso. Foi
ele quem me ensinou a dirigir e nem tínhamos idade para isso, mas resolvíamos o
problema com almofada nas minhas costas e tênis plataforma para alcançar os
pedais do carro. Nem vou mencionar como conseguíamos sair escondido com o carro do pai dele. (filhos,
não tentem isso em casa, mamãe e papai eram inconsequentes naquela época).
Engatei o carro, sai
e lentamente manobrei até estacioná-lo com perfeição. Só fiquei ferrada quando
fui descer, porque a droga da vaga era realmente apertada e quem me conhece sabe que não
sou magrinha como gostaria e suei pra caramba pra sair daquele buraco dos infernos.
Pomposa, apanhei meu
comprovante de estacionamento, enquanto o administrador ironizava o manobrista que agora ia bancar meu estacionamento e me devolver o carro limpinho, limpinho.
— Não esquece de aspirar o porta mala! — completei cheia de ironia, mas o folgado rebateu.
— Desculpai dona, mas tem mulher que não
gosta de manobrar nem quando o carro é novo e praticamente dirige sozinho,
imagina um igual o seu...
Se eu pretendia
mesmo deixar o lugar, parei.
— Tá chamando meu
carro de velho?
Eu não achei graça,
mas os garotos-lavadores-de-carros e o administrador-atiça-confusão acharam... e muita.
— Não, não... é que
seu carro... — diz o manobrista cheio de arrependimento enquanto sem graça aponta meu ÚNICO CARRO, MEU BEBÊ, MINHA
LIGAÇÃO ENTRE A GARAGEM DA MINHA CASA E O MUNDO LÁ FORA. — o carro não é novo
né dona...?
A espontaneidade e o jeito preocupado do rapaz foi tamanha que a raiva acabou na risada. Afinal que argumento eu podia usar? Meu carro não é novo mesmo! Por isso, ignorei o fato e fui resolver meus problemas.
Achei que era brincadeira, mas quando retornei do fórum o carro estava limpo, lavado e perfumado e euzinha nem paguei nada por isso.
Bem dizia meu pai: faça o que quiser, mas não irrite uma mulher... Acho que agora o manobrista entendeu o recado.
Tadinho dele!
bjs.
Margareth Brusarosco.